quarta-feira, 28 de abril de 2010

- como saber se encontraste uma alma para toda a vida?
- não me parece que possas saber logo de imediato. no início, levado pelo primeiro encanto, sentes uma afeição, um conforto ternurento. e procuras o extraordinário que habita nessa pessoa, de modo a convenceres-te a ama-la, dando-lhe o benefício e expondo o teu afecto.
- claro que pode simplesmente cativar-te o tempo necessário a quebrar o feitiço com duas ou três palavras desprovidas da essência que procuras.
- tem então de ser perfeito? a força imparável num vislumbre momentâneo de olhares onde crês ter encontrado a aura que dá sentido à poesia? um retrato idílico aos sonhos de infância? aquele amor, aquela sensação de que tens sido incompleto e que agora és um todo?
- Sim.
- não consigo deixar de pensar, que esse tipo de certezas é reflexo de que não se tem amado o suficiente.

you’re a strange color

sábado, 10 de abril de 2010

inês em diálogo com o ser da sua afeição, num entardecer ao som do ruído citadino que lhes invadia a quietude das almas.

(inês) – não percebo o que se passa comigo.
(ele) – tens noção que eu posso interpretar isso de maneiras tão díspares quando o divertimento me permite!? – inês fez uma pausa no tempo, contemplou-o, manteve o silêncio. – humm o suspense ensombrou-me a curiosidade.
– falar destas coisas é esquisito. sabes quando parece que algo está errado, que estás na primavera e não te apercebes das flores ou dos pássaros a cantar, que o sons das teclas do piano te soam sempre a ruído?
– esta vai ser uma deambulação pelo sentido da vida não vai? – inês voltou a parar o tempo, e no silêncio pensava se ele a entenderia, se valia mesmo a pena abrir-se a confidências… – tens de ser mais específica, ao piano era beethoven ou chopin?
– é só este sentimento de que posso fazer algo que nunca ninguém fez, e não o estou a fazer.
– . – se observares os rostos das pessoas que estão dentro deste café, ficas na incerteza do que é que as suas consciências estão a pensar. se estão rendidos à vida? acomodados a uma apatia morna, no entorpecimento dos sentidos? e se eu te disser que em dada altura das suas vidas todos eles pensaram o mesmo que acabaste de dizer!
– onde queres chegar?
– a lado nenhum, não quero chegar a lado nenhum. só sei que se a vida fosse fácil para os que sonham, tu arranjavas outra coisa para fazer.

eu sou o amanhecer

sábado, 3 de abril de 2010

(inês) - quem és tu?
- eu sou o amanhecer.
- não é um pouco convencido comparar um café com as forças do acordar?
- estás a ver os primeiros raios de sol por detrás daquela nuvem?
- sim.
- ao ver-te decidi ser o teu dia.
- hoje já tem um sol.
- serei então o sol do teu amanhã.
- estou atrasada tenho de ir trabalhar.
- o encontro de amantes sempre é tarde demais.
- saio ás sete.
- serei então o entardecer.
- estás muito indefinido, não me parece bem seres três coisas ao mesmo tempo.
- o inesperado pode a qualquer instante mudar o rumo das nossas vidas, quando o compositor abre excepções a auroras matinais com um toque de anjo.

inês afastava-se do pequeno botequim, radiante em pensamentos – mas de onde é que apareceu este?